Olá, pessoal!
Em relação à foto que tem circulado pela internet e gerado grande polêmica sobre às expedições comerciais no EVEREST, na qual podemos ver uma absurda aglomeração de alpinistas próximos ao cume, no meu ponto de vista, devemos separar o assunto em duas questões distintas:
Primeiramente, sobre o EXCESSO DE ALPINISTAS na montanha, penso que realmente é um problema grave e deve ser tratado imediatamente. Uma possível solução, que tem sido defendida por muitos, seria reduzir o número de licenças por ano pela metade (de 400/500 para 200/250) e talvez colocar como pré-requisito para fazer o Everest, ter escalado um outro 8mil antes, por exemplo. Isso deveria tornar a montanha mais segura, tanto em relação à quantidade de pessoas, quanto ao nível de qualificação delas. Além disso, ajudaria o Governo do Nepal a compensar, pelo menos parcialmente, a perda de receita com as licenças, já que deveríamos ter muitos montanhistas escalando outros 8mil, todos os anos. Provavelmente, se formaria uma “fila de espera” para se poder realizar uma expedição ao Everest, mas faz parte do jogo. Já vemos isso acontecendo na Ultra Trail do Mont Blanc (UTMB), na Maratona de Nova Iorque, e em outros desafios que acabaram se tornando “comerciais”, como é o caso do Everest. Por outro lado, o fato da montanha ter se tornado comercial, na minha opinião, não diminui o seu encanto, beleza ou a importância da conquista de quem consegue escalá-la. E aí vem exatamente o segundo ponto: sobre a OPINIÃO do MESSNER, que disse que quem usa oxigênio suplementar ou conta com o apoio de sherpas, é TURISTA na montanha, estou em total desacordo. Para mim, Messner foi o maior de todos os tempos e alguns de seus feitos talvez jamais serão igualados. Entretanto, atitudes como desqualificar o feito do Kilian Jornet, que escalou o Everest sem oxigênio, sem apoio de sherpas, chegando ao cume e batendo o recorde de tempo duas vezes na mesma temporada, somente com o argumento de que a “corrida contra o relógio” não faz parte do alpinismo, me parece mais intenção de desmerecer a conquista espetacular do outro, do que preocupação por preservar o puro e real alpinismo. Todos sabemos que a humildade e a atitude de reconhecer outros feitos que eventualmente pudessem superar os seus, nunca foram os pontos fortes de Messner. E sobre sua opinião em relação aos possíveis “turistas” nas montanhas, descordo com a propriedade de quem, antes de escalar o Everest, por mais de quatro anos realizou quase duas dezenas de expedições como preparação, inclusive a um outro 8mil, realizou cursos de escalada em rocha, neve e gelo e treinou “como um louco”, com uma série de privações e sacrifícios, durante o ano que antecedeu a expedição. Além disso, nos 74 dias de duração da mesma, respeitou a montanha e o desafio com toda a grandiosidade que eles merecem. Falo por mim, mas conheço uma quantidade significativa de alpinistas, brasileiros e de outros países, que fizeram o mesmo, e que, na minha opinião, são merecedores de todo respeito e louros que essa conquista proporciona.
Infelizmente, muitas pessoas leigas desconhecem esses fatos e propagam essa opinião, equivocada, na minha visão. Alguns, talvez, frustados em relação a seus próprios sonhos e objetivos incompletos, buscando desqualificar a conquista daqueles que tiveram êxito em transformar os seus sonhos em realidade. Mas assim é a vida, sempre haverá os que aplaudem e os que criticam o nosso sucesso. Cabe a nós, termos a serenidade para lidar com a situação e reconhecermos o nosso valor, independentemente de qualquer opinião.
Abraço a todos e #rumoaotopo! ☝🏼☝🏼☝🏼
CRISTIANO MÜLLER é Alpinista Profissional, idealizador do projeto “No Topo do Mundo”, através do qual se tornou o 16º brasileiro a chegar ao TOPO DO MONTE EVEREST. Além da montanha mais alta do planeta, Cristiano possui um extenso currículo de 7 anos de experiência, tendo realizado mais de duas dezenas de expedições em 10 países e 5 continentes.